quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Dom


Há certos livros que mesmo não lidos são tão conhecidos que fazem parte da nossa história oral, afetiva. Dom Casmurro, de Machado de Assis, que completa neste ano 100 anos de morte, é, na literatura brasileira, a história que povoa o imaginário brasileiro e, agora, começa a habitar também o universo dos leitores da grande literatura mundo afora.

Machado é citado hoje entre os especialistas estrangeirosm como um dos gênios da literatura mundial, autor de uma ironia única e universal, e agora começa a ficar conhecido além do circuito acadêmico: o destino natural de todo grande escritor; o New York Times dedicou-lhe artigo de destaque recentemente.

Mas o Machado mais lembrado no Brasil, além do abusado, cético e sempre irônico Brás Cubas, é o Machado de Dom; o “Dom Casmurro”, apelido de Bentinho, atormentado pela imagem da traição praticada por sua amada mulher, Capitulina, vítima de um amor obsessivo.

Afinal, Capitu traiu Bentinho com seu melhor amigo Escobar? O tema é controverso e especialistas e curiosos já lhe dedicaram a devida atenção e até Tribunais do Júri, simulados, espalharam-se Brasil afora para se declarar o veredicto final. Como Promotor, apostaria na traição. Afinal, a própria descrição de Capitulina já é um libelo: Capitu, a mulher dos olhos de ressaca e do olhar oblíquo de cigana dissimulada.

E Bentinho, o suposto corno, delirante ou injustiçado, parece não ter dúvidas, como sugere Machado ao narrar, através de Bento, o drama de Otelo e Desdêmona e compará-lo com o de Bentinho e Capitu:

“- E era inocente, vinha eu dizendo rua abaixo – que faria o público, se ela deveras fosse culpada, tão culpada como Capitu? E que morte lhe daria o mouro? Um travesseiro não bastaria; era preciso sangue e fogo, um fogo intenso e vasto, que a consumisse de todo, e a reduzisse a pó, e o pó seria lançado ao vento, como eterna extinção...”

Machado foi buscar em Shakespeare inspiração para desenvolver a necessária tensão que envolve os desavisados apaixonados que se deixam dominar pela paixão e pelo ciúme. Para Shakespeare, é bastante claro: Desdêmona foi vítima das artimanhas de Yago contra Otelo que, fragilizado pelo seu ciúme, confia mais na imagem construída por seu inimigo ( basta lembrar do lenço) do que em sua amada mulher; em Machado a resposta sobre a existência do caso entre Capitu e Escobar fica em uma zona indefinida: delírio de um personagem atormentado ou uma imperdoável história de traição abjeta que priva Bentinho do amor do seu melhor amigo, da sua mulher e do seu filho?

Para mim, pouco importa e para Bentinho deveria importar muito menos: quando a desconfiança eclode Escobar está morto e enterrado e o pequeno Ezequiel, ainda que seja filho de Escobar (será?), ama, mais do que qualquer outra pessoa, o pai, Bentinho, que lhe criava como filho até então; para o filho rejeitado até a mãe, Capitu, era menos importante do que o pai.

Mas para Dom Casmurro o comportamento reservado, discreto e digno de sua mulher e o amor incondicional do filho, confirmados mais uma vez no fim do romance, são insuficientes para que qualquer vínculo seja preservado.

Dom separa-se do filho e da mulher, o melhor amigo fora levado pelo destino, e sua opção por uma vida solitária (questão de honra) continua 'normalmente' desde que ninguém saiba que se separou da mulher e do filho e um par de chifres: melhor tê-los longe como se nada tivesse acontecido. E será que algo aconteceu mesmo?
Capitu e Ezequiel vão para a Europa sem que Dom volte a vê-la novamente. O filho só visita o pai, sem mágoas, depois da morte da mãe, que manteve, durante todo o longo exílio, íntegra a imagem do pai.

Dom Casmurro é a grande história sobre traição do imaginário brasileiro com todas as ambiguidades: a mulher dissimulada ou a vítima probo. A questão sempre retorna porque Dom é mais do que uma simples história de traição entre homem e mulher: Dom Casmurro é a história de Bentinho, o homem que traiu a sim mesmo, e virou casmurro, o Dom Casmurro; um homem religioso que 'sabe' as aparências contam muito mais do que o amor, o segundo mandamento de Deus do homem Bento.

Mesmo um seminarista, ironicamente chamado Bentinho, filho de uma mãe ‘Santa’, como Dom fez inscrever em sua lápide, não é capaz de exercer o perdão que deveria ser praticado não uma mais setenta vezes sete vezes. Das lições do catecismo, Bentinho ficou apenas com a culpa que lhe fazia sustentar filho e mulher na Europa para que ninguém soubesse, ou suspeitasse, que Bentinho fora corno de um defunto.

Otelo mata uma inocente e se destrói em culpa; Bentinho prefere ser Dom Casmurro, um nobre sem nobreza, um ex-seminarista incapaz de perdoar até os que mais ama e por quem largou o seminário.

A história de “Dom Casmurro” é uma história sobre a hipocrisia, sobre o vazio de um homem que é incapaz de conhecer o significado verdadeiro da vida e o livro um desabafo de alguém que sabe que a vida está em outro lugar e mesmo assim aceita perder tudo (mulher, filho) e viver sozinho com sua honra preservada.

Sem solução para sua vida e suas fraquezas, Dom encontra o livro como descarrego para suas frustrações e melancolicamente assume que: “o (seu) fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das coisas que perde; mas faltou eu mesmo, e esta lacuna é tudo.”

Machado gostaria de ser comparado com Shakespear: ambos enxergaram matizes ocultas na natureza humana. Depois de Shakespeare o ciúme ficou mais cru, depois de Dom nossa hipocrisia está com as vísceras à mostra. Por que nós continuamos recusando em enxergá-la?

Notas de aula de filosofia antiga

HISTÓRIA DA FILOSOFIA - FILOSOFIA ANTIGA – DO INÍCIO A SÓCRATES

1. Os precedentes históricos

1.1 As sociedades sem Estado
a) sacrifício e unanimidade: vingança e ausência de judiciário
b) ordem intangível: contrário à mudança
c) a ordem mítica como ordem global indistintamente cósmica e social

1.2 As Monarquias Sagradas do Oriente Próximo
a) a revolução neolítica: invenção da agricultura, das casas de material rígido e do sedentarismo (início em 10.000 a.C.)
b) a cidade (por volta de 3.500 a.C.:
- surgiu em Uruk, na civilização de Obeid;
- Diferenciação em relação às ‘cidades’ anteriores pelo número de habitantes, pela dimensão, pela diferenciação do tamanho e das funções das casas (destinadas para a habitação, para o culto para a defesa e para o poder);
c) a escrita
- por volta de 3.000 a.C. surge a escrita cuneiforme entre os sumérios (na Mesopotâmia do Sudeste): utilizada pelas Akadios, babilônicos e hities
- por volta de 2.500 a.C. os fenícios inventaram a escrita alfabética donde derivaram as escritas antigas: Creta, hebraico, micênico, grego, etrusco e latim;
d) o surgimento do Estado
- Surge na Mesopotâmia e no Egito com as seguintes características:
1) um governo central dirigido por um monarca;
2) um aparelho judiciário (com juízes profissionais)
3) um aparelho fiscal;
4) um órgão para gerir os grandes trabalhos

1.3 Instituições do Direito nas Monarquias do Oriente Próximo
a) O parlamento de Uruk: no local onde surgiu a escrita e havia cidade aparece o parlamento referido em um poema de 2000, tendo existido aproximadamente em 3.000
b) O Código de Hamurabi
- descoberto em 1902
- Rei akadio Hamurabi que reinou a babilônia entre 1792 e 1750 a.C.
- não era exatamente um código: era uma compilação de sentenças com as inovações jurídicas publicada para lhes conceder divulgação solene, o que mostra que é possível o início da mudança



2. A fundação Grega

2.1 Das sociedades do Oriente próximo à Grécia, o que aconteceu? (Cinco causas de Vernnant)
a) crise da soberania: vários soberanos
b) a aparição do espaço público: a publicização e o espaço público (a Ágora), a escrita surge como publicização da lei e dos primeiros escritos
c) a promoção da palavra e da razão
d) a reivindicação da igualdade: a desigualdade é bárbara
e) a metamorfose da religião:
- o surgimento do culto público da cidade: os cultos saem do palácio e vão para os templos;
- a aparição da religião privada
f) a distinção entre phisis (Natureza) e nomos (Convenção)

3. As fases da Filosofia grega
3.1 O período naturalista (a physis e o cosmo), séc. VI a V a.C.
a) Jônios
b) Pitagóricos
c)Eleatas
d) os Pluralistas
e) os Físicos Ecléticos
3.2 O período humanista:
a) os sofistas
b) Sócrates
3.3 As grandes sínteses (IV a.C.)
a)Platão
b) Aristóteles


4 Os Jônios (séc. VII e VI a.C.)
4.1 Tales de Mileto
- final do século VII a. C e início do século VI a.C
- não escreveu
- iniciador da physis: um princípio originário único (arché, termo que não é dele), a Água, da qual derivam todas as coisas, a vida e tudo
4.2 Anaximandro de Mileto
- final do século VII a. C e início do século VI a.C
- Escreveu um “Tratado sobre a Natureza”
- Antes da água existe o infinito
- o mundo é composto de contrários opostos
4.3 Anaxímanes
- VI a. C
- Discípulo de Anaximandro
- Escreveu “Sobre a Natureza”
- O princípio é o ar infinito
- Ar ao condensar vira água e, depois, terra; ao dilatar fogo

5 Heráclito de Eféso
- séc. IV e V em Eféso
- Tudo escorre: tudo move e vale para toda a vida
- Contrários se harmonizam e se movem o tempo todo
- Fogo e a inteligência são o princípio

6 Os pitagóricos e os números
- Maior abstração: o princípio da realidade é o número
- análise da regularidade numérica

7 Xenófantes de Cólofon
- 570 a.C
- Critica ao antropomorfismo: Deuses não têm formas humanas (outros homens fariam outros Deuses), defeitos humanos;
- Deus onipotente, onipresente e onisciente;
- Terra e Água: tudo nasce da terra e tudo que cresce e nasce é água e terra

8. Os Eleatas: a descoberta do ser (“o ser é o princípio e fora do princípio nada existe”)

8.1: início da ontologia e descoberta do princípio da identidade
- O ser
- O não ser e o nada não existem; O não ser não pode ser nem pensado;
- Se existisse o nada, o universo não poderia ter surgido: do nada não pode surgir algo;

8.2 Zenão

8.3 Melisso

9. Os pluralistas

9.1 Empédocles: quatro elementos (água, terra, fogo e ar), que se transformam por força do amor e do ódio;

9.2 Anaxágoras: As raízes (sementes ou homeomerias, compostas de inteligências cósmica das quais nascem todas as coisas);

9.3 Leucipo e Demócrito: O atomismo (dele derivam as coisas por uma força da qual estão naturalmente dotados; átomo ( do grego, sem divisão);

10. Os físicos Ecléticos

10.1 Diógenes de Apolônia: É o ar infinito e inteligente

10.2 Arquelau de Atenas: É o ar infinito e inteligente


11O período humanista:

11.1 Os sofistas

11.1.1 Sofismas e a maldição socrática (Platão e Aristóteles): o resgate no século XX e a grande contradição (os sofistas tornaram Sócrates possível e foram condenados por ele);
11.1.2 Importância para REALE e ANTISERI:
“a) deslocam do interesse da filosofia da natureza para o homem;
b) instauram um clima cultural que se poderia chamar com o moderno termo iluminista;
c) criticam a religião em perspectiva também atéia;
d) criticam o conceito de verdade e de bem;
e) destroem a imagem tradicional do homem;
f) consideram a virtude como objeto de ensino;
g) apresentam-se como mestres de virtude;
h) são expressão da crise da aristocracia e da ascensão política das novas classes;”


11.1.3 Os representantes dos sofistas

a) Protágoras: o homem é a medida de todas as coisas (do bem e do mal, da verdade e da mentira), mas está vinculado ao critério do útil; A virtude é tornar forte o argumento fraco;
b) Górgias: niilista, não existe verdade, bem; A virtude é a retórica;
c) Pródico de Céos:
d) Hípias e Antifonte
e) Erísticos e Sofistas- políticos
- dessacralizam a religião
- fazem uso instrumental e ideológico da retórica para conquistar o poder
- A virtude: a vontade do mais forte impõe-se sobre o mais fraco




12 Sócrates


12.1 Sócrates um sofista?

12.2 O mestre dos grandes filósofos

12.3 Como o conhecemos? Platão, Xenófantes, Aristófanes (as nuvens) e Aristóteles (embora não contemporâneo);

12.4 Só sei que nada sei e um sábio: como conciliar?


12.5 Alma e virtude em Sócrates

12.5.1. A Alma: é a consciência e a personalidade intelectual e moral, sobretudo razão e conhecimento; O corpo é o instrumento da alma:
12.5.1.1 A Virtude da Alma (aquilo que a torna perfeita) é:
12.5.1.1.1 O autodomínio: domínio da razão sobre as paixões
12.5.1.1.2 A não-violência: a razão se impõe pela convicção e não pela força
12.5.1.1.3 Liberdade: libertação da parte racional (=verdadeiro homem) em relação à parte passional; Corresponde à liberdade interior;

12.5.1.2 Vício: O vício é ignorância, por isso: a) ninguém peca voluntariamente (pecado = erro); b) as diversas virtudes são recondutíves à unidade (= ciência do bem e do mal e, também, o vício);

12.5.2 A cura da alma: a alma se purifica no diálogo (dialética):

12.5.2.1 Ironia-refutação: para purificar a alma do falso saber por meio: a) da figura do não saber para induzir o interlocutor a expor o próprio saber; b) do metódico disfarce de assumir as teses do adversário a fim de demonstrar a sua falsidade; c) da refutação para fazer o adversário cair em contradição e induzi-lo a deixar as falas convicções;
12.5.2.2 Maiêutica: para fazer emergir, mediantes perguntas e respostas, a verdade que está em cada um de nós;


12.6 A morte de Sócrates



HISTÓRIA DA FILOSOFIA - FILOSOFIA ANTIGA: platão


1 As grandes sínteses (IV a.C.): auge da filosofia; decadência de Grécia

1.1 Platão e Aristóteles

1.2 Importância: Dialética, Idéia,

2. Platão e seus precursores

2.1 Parmênides: início da ontologia e descoberta do princípio da identidade;
- O ser
- O não ser e o nada não existem; O não ser não pode ser nem pensado;
- Se existisse o nada, o universo não poderia ter surgido: do nada não pode surgir algo;

2.2 Oposição ao relativismo dos sofistas
a) Protágoras: o homem é a medida de todas as coisas (do bem e do mal, da verdade e da mentira), mas está vinculado ao critério do útil; A virtude é tornar forte o argumento fraco;
b) Górgias: niilista, não existe verdade, bem; A virtude é a retórica;

2.3 Sócrates
2.3.1 O mestre dos grandes filósofos
2.3.2 Como o conhecemos? Platão, Xenófantes, Aristófanes (as nuvens) e Aristóteles (embora não contemporâneo); Platão ou Sócrates?
2.3.4 Só sei que nada sei e um sábio: como conciliar?
2.3.5 Alma e virtude em Sócrates

1. A Alma: é a consciência e a personalidade intelectual e moral, sobretudo razão e conhecimento; O corpo é o instrumento da alma:
1.1 A Virtude da Alma (aquilo que a torna perfeita) é:
1.1.1 O autodomínio: domínio da razão sobre as paixões
1.1.2 A não-violência: a razão se impõe pela convicção e não pela força
1.1.3 Liberdade: libertação da parte racional (=verdadeiro homem) em relação à parte passional; Corresponde à liberdade interior;

1.2 Vício: O vício é ignorância, por isso: a) ninguém peca voluntariamente (pecado = erro); b) as diversas virtudes são recondutíves à unidade (= ciência do bem e do mal e, também, o vício);

2. A cura da alma: a alma se purifica no diálogo (dialética):

2.1 Ironia-refutação: para purificar a alma do falso saber por meio: a) da figura do não saber para induzir o interlocutor a expor o próprio saber; b) do metódico disfarce de assumir as teses do adversário a fim de demonstrar a sua falsidade; c) da refutação para fazer o adversário cair em contradição e induzi-lo a deixar as falas convicções;
2.2 Maiêutica: para fazer emergir, mediantes perguntas e respostas, a verdade que está em cada um de nós;

2.4 A morte de Sócrates: Platão

3 Platão: Vida e Obra

3.1 Vida
- Nasceu em 427 a.C. e morreu em 347 a.C.;
- De família nobre (descendentes de Sólon por parte de mãe, “Pericitone” e Codro e do Deus Poseidon por parte do Pai Ariston ) e forte compleição física (daí Platão de platos, amplitudes, largueza, nome original Aristócles);
- Juventude coincidiu com a Guerra do Peloponeso, responsável pela decadência de Atenas;
- Acontecimentos marcantes: Governo dos 30 tiranos (em que junto com Crítias e Cármides participou e ficou chocado com a violência) e morte de Sócrates;
- Discípulo de Heráclito e depois de Sócrates (mestre de Aristóteles);
-Viagens: Mégara, Itália (388 Dionísio I, amizade com Dion; vendido com escravo; Ainda retorna para Siracusa em 367, mas fracassa);
- Fundador da academia: por volta de 387 a.C.

3.2 Obra
- Quase tudo autêntico
- O problema da Cronologia
- Novas interpretações
- Doutrinas não escritas (esotéricas)
- Doutrinas escritas, diálogos, ordem: Fédon, Banquete e Fédon, Repúblicas, Leis


4 Platão: As Idéias
- A segunda navegação: a metafísica
- O dualismo: ente uno (ENTE) e imóvel e coisas múltiplas e perecíveis (COISAS MÚLTIPLAS)
- Platão descobre a idéia: buscar o ser das coisas
- quase branco: permanência e identidade dos entes
- idéia (ou eîdos) = figura, aspecto
- Cavalo e palavra (conhecimento lingüístico)
- idéias são “entes metafísicos que encerram o verdadeiro ser das coisas”
- Cisão da realidade em dois mundos:
1) o das coisas sensíveis, fenomênico, vIsÍvel: manifestação do doxa (opinião); faz as coisas serem o que são, realidade aparente, sombras, conjetura;
2) o das idéias (inteligível), suprafenomênico, invisível: que é o verdadeiro e pleno ser; manifestação do noûs, idéia;
- coisas são sombras das idéias
- amor nos faz recordar a idéia da beleza e nos introduz o homem no mundo ideal
- O mito: renovação quando a razão se esgota
- Os cavalos alados e o conhecer como recordar (Fedro)
- O mito das cavernas (Livro VII da República)

A doutrina dos princípios primeiros:
- O bem (o uno) e as díades (a pluralidade do mundo sensível)

- O amor (Eros) não é belo, nem bom, mas é sede de beleza e de bondade, diferente do Ágape (origem da Caritas Agostiniana) e da Philia (Aristóteles)




Tipo de Governo
Se respeita as leis
Se não respeita as leis
Governo de um só
Monarquia
Tirania
Governo de poucos
Aristocracia
Oligarquia
Governo de muitos
Democracia
Democracia corrupta (demagogia)


Tipos de alma
Classes Sociais
Virtudes
Educação

Concupiscível
Camponeses, artesãos, comerciantes: produzem os bens

Temperança
Não têm uma educação particular: limitam-se a imitar os outros

Irascível
Soldados, guardas: defendem a cidade dos perigos internos e externos

Coragem
Educação gímnico-musical: comunhão dos bens e das mulheres

Racional

Filósofos, regentes: dirigem e administram o Estado

Sabedoria: contemplação do bem ideal para praticá-lo
Educação fundada sobre a dialética, para alcançar o conhecimento do Bem

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O que somos?


Gauguin, Museum of Fine Arts, Boston

“De onde nós viemos? O que somos? Para onde vamos?” Todo mundo já se perguntou sobre o sentido da nossa vida e sobre a razão da nossa existência. A religião, desde que o mundo existe, é o território onde se apresentam as respostas para este problema. Hoje, a filosofia, a arte, especialmente a literatura, e até a ciência ajudam o homem moderno a procurar outras respostas.

Para ateus ou religiosos, católicos, protestantes ou espíritas, admitir a existência de Deus não resolve estas questões definitivamente tout court. Com Deus ou sem Ele, precisamos encontrar um sentido próprio para a vida que seja mais do que um consolo para os momentos de fraqueza e dor. Mesmo no sucesso, várias pessoas, às vezes bem cedo, outras mais tarde, descobrem, para perplexidade dos outros, que a vida estava em outro lugar: o executivo bem sucedido larga a empresa para cuidar de uma pousada na praia, o profissional liberal padrão entra em depressão, o pai exemplar larga tudo por nada. E, pior, estas ações 'sem sentido' estão se tornando cada dia mais comuns.

Para todas estas situações exigimos um motivo. O problema é que as razões que conduzem a cada uma destas decisões é complexa demais para ser simplificada em um ou em um par de motivos; daí a superficialidade e insuficiência dos livros de auto-ajuda ao apresentarem fórmulas para uma vida feliz.

E a razão é mais simples do que parece à nossa filosofia: não existe apenas 1 (um) modelo para a felicidade, e o papel de cada um é construir o caminho para a própria felicidade. Cabe a cada indíviduo fazer as melhores escolhas para si mesmo e descobrir o próprio destino.

O problema é que a melhor decisão para um será a pior para outro: um artista boêmio que vier a seguir a carreira de médico sonhada pelo pai será um profissional frustrado e provavelmente medíocre; o atleta mediano que foi treinado pelo pai para ser e se considera o novo Pelé ficará revoltado ao ser colocado na reserva de um time da segundona: para ele a culpa é sempre do técnico. Será?

Para ser feliz temos que, antes de tudo e sempre, descobrir o próprio caminho, conhecer o próprio desejo e saber diferenciar quais são os nossos sonhos e quais são as manifestações da projeção e da frustração dos outros que nos acostamos a tomar como nossa, mas que não são.

O filho modelo, aluno exemplar, aprovado em primeiro lugar no vestibular, perde o intersse pela faculdade no segundo semestre: será que é porque ele é um vagabundo ou porque talvez o desejo dele fosse outro? Uma pessoa que aos 40 anos descobre o que realmente gosta só perdeu tempo na vida até então?

Seria melhor que nosso talento fosse aliado incondicional do nosso desejo e da nossa percepção: o menino prodígio descobre já na infância aquilo que o realiza e se sente plenamente feliz brincando de treinar música ou de desenhar figuras para a qual todas reconhecem o seu talento. Mas muitos poucos nascem com a genialidade quase sobrenatural de um Mozart ou de um Picasso cuja inegável virtude musical e artística é manifestamente perceptível, sem prescindir de intenso treinamento para ser plena.

O problema é que mesmo que reconheçamos uma atividade profissional que nos realize e ainda forneca rendimentos suficientes para viver de acordo com o que esperamos (o que pode variar, em todo caso, de muito pouco para demais) não há certeza de que encontraremos a Felicidade.

Algumas vezes descobrir o próprio caminho pode ser um processo com opções tão difíceis e dolorosas que qualquer decisão será trágica, mas a pior escolha é não escolher, ficar dividido entre o que desejamos para nós e a vontade de agradar aos outros, de alcançar reconhecimento, muitas vezes travestida de boas intenções: queria mais Poder para ajudar aos outros ou gostaria de ter mais dinheiro para fazer mais caridade. Enquanto o dinheiro e o Poder desejados não vem ficamos aguardando a hora certa para fazer um bom uso deles até porque se não tenho o suficiente é por não ser ainda a hora de dividir; esta hora pode nunca chegar e a vida é curta demais para ser desperdiçada na tentativa de conciliar o que é inconciliável.
E se não tivermos coragem para tomar a nossa decisão, certa ou errada, difícil saber antes de tomá-las, ficaremos sempre no meio da caminho, indecisos, dividios, tentando satisfazer Gregos e Troianos, mas traindo a todos, inclusive quem parecia impossível trair, nós mesmo.

No fim, de todos os caminhos, somente um faz sentido: encontrar tudo que nós é próprio e viver de acordo com aquilo em que acreditamos. Reconhecendo isso, podemos lutar e torcer para que tudo dê certo e para que sejamos felizes, mas se tudo der errado (como aconteceu com Van Gohg, por exemplo), ainda assim, só há uma luta que vale a pena na vida: a luta pelos próprios sonhos.

Mas reconhecer que o sentido da vida é lutar pelos próprios sonhos não torna tudo mais fácil e pode até tornar tudo muito difícil pois, mesmo que nos sacrifiquemos intensamente pelos próprios sonhos, não há caminho garantido para a felicidade, como bem demonstra a vida de Jean Paul Gauguin: profissional francês bem sucedido com mulher e filhos, depois de muitas dúvidas, Gauguin largou tudo para encontrar sua arte sozinho no distante Taiti.

Gauguin foi feliz? Não sei, provavelmente não, mas a arte única, emanação direta e profunda de seu espírito, que produziu não deixa dúvidas: Gauguin encontrou o seu caminho.

Quem tiver dúvidas, veja o quadro que o próprio Gauguin qualificou como uma obra prima e intitulou “De onde nós viemos? O que somos? Para onde vamos?” no acervo permanente do Museum of Fine Arts, em Boston, vizinho à Universidade de Harvard e ao MIT.

As trezes pessoas e os seis animais do quadro compõem uma selva única da vida, um verdadeiro festival de cores e mistérios, na qual cada um deve encontrar o próprio destino; Gauguin tem seus quadros; eu tenho meus devaneios.