segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Rio das Flores
O conto do Amor
Vicky Cristina Barcelona
"Vicky Cristina Barcelona" é mais um filme de Woody Allen que vale a pena ser visto. As amigas Vicky e Cristina saem de Nova York para a encantadora Barcelona para férias de dois meses para procurar a felicidade e, quem sabe, até se encontrar.
A infiel anfitriã catalã que hospeda Vicky e Cristina com uma vida aparentemente organizada é a antípoda do desejo das jovens americanas. Vicky prefere uma vida com conforto e segurança em em que os riscos possam ser sempre calculados; Cristina não teme em se lançar na primeira aventura, ainda que seja para continuar sozinha e cheia de dúvidas.
O ator Jaiver Bardem mostra mais uma vez sua versatilidade e quase nos faz esquecer Chigur (de "Onde os Fracos não tem vez") ao representar o boêmio artista que é o catalizador dos sonhos das mulheres ao mesmo tempo em que não passa de um coadjuvante.
Cristina (a grande musa da atualidade, Scarlett Johanssen) encanta-se imediatamente pelo livre e envolvente artista espanhol; Vicky encanta-se ainda mais embora com enorme relutância em uma amor que vai abalar completamente uma vida aparentemente inabalável. Maria, representada por Penélope Cruz, é a imagem mais poderosa do filme embora com tanta intensidade acabe resultando em um irremediável desequilíbrio que resulta no delírio, na violência e na loucura.
No final, todos os personganes saem da história transformados neste curto período de dois meses de férias. Nós, em apenas duas horas, podemos até não sair transformados mas poderemos sair pelo menos diferentes a pensar no real significado desta grande aventura, a vida.
E talvez termine em uma reflexão sobre qual é o seu personagem preferido: Vicky, Cristina ou Maria? Eu estou tentando aprender a ser eu mesmo. Se a dúvida for grande demais, umas férias em Barcelona são altamente recomendadas; se não houver dúvidas, também!
Gomorra
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Entre nós
No livro, na maior parte entrevistas com escritores judeus e sobreviventos do holocausto ou da perguição autoritária, Philip Roth discute alguns segredos da difícil arte de escrever romances: alguns precisam manter-se na pátria, outros precisam fugir para bem longe; alguns precisam do labor diário, como Levi que continuou trabalhando na indústria química, outros precisam de dedicação exclusiva à arte de contar histórias.
Todos, porém, têm algo em comum: são consumidos pelo desejo ardente de criar grandes histórias.
Ser escritor não é um simples desejo entre outros desejos; é quase uma missão, uma obrigação do artista consigo mesmo. O escritor pode até deixar de contar as suas histórias mas elas irão perseguí-lo implacavelmente em qualquer lugar por toda vida.
Mas para contar uma história o artista precisa mergulhar profundamente na sua própria história, no imenso labirinto dos motivos do viver e do passado que nos constitui. A própria vida pode tornar-se um risco como reconhece MILAN KUNDERA "Há uma linha divisória imaginária além da qual as coisas parecem desprovidas de sentido, ridículas. A pessoa perguna para si própria: não é um absurdo que me levante de manhã para ir ao trabalho? Lutar pelo que quer que seja? Fazer parte de uma nação só porque eu nasci nela? O homem vive muito próximo dessa fronteira, e por isso não é difícil para ele passar para o outro lado."