sábado, 28 de fevereiro de 2009

Milk


"Milk", de Gus Van Sant, com Sean Penn, que recebeu o Oscar de melhor ator em 2009, é a história de Harvey Milk, um homem comum que realizou atos extraordinários.

De fato, Harvey Milk é um ordinário empregado de uma empresa que se encontra preso ao dilema de assumir, claramente, uma opção diferente de vida que representaria mudanças devastadoras.

Milk é um homossexual, nos EUA, em uma época, recente, em que ser homossexual é um grande fardo, que poderia implicar na exclusão do grupo social, familiar e até no desemprego. Cansado de representar um papel diferente daquele que realmente gostaria, Milk muda-se para San Francisco e resolve assumir-se e deixa de esconder, para quem quer que seja, quem é na vida.

Só que, naquela época, esta escolha era realmente difícil e Milk passa a ver a política como único de passar a adotar um papel relevante para resistir a todo preconeito, discriminação, hipocrisia e cinismo que é obrigado a suportar apenas para ser quem é.

Milk passa a ser um político engajado na luta pelos direitos civis e no reconhecimento à igualdade de todas as pessoas, mas esta não é durante a sua vida uma vocação. O papel política que Milk ocupa é apenas a luta de um homem que para ser ele mesmo é forçado a se engajar em um movimento social.

Sean Penn soube compreender e encarnar a dificuldade de Milk, cuja luta ainda continua sendo uma batalha de cada dia, já que o casamento entre homossexuais ainda é em mutiso paises um sonhos distante, como reconheceu Sean no discurso em que recebeu o prêmio.
O que causa surpresa é que tanta gente continue revoltada com a escolha de outras pessoas que podem até ser diferentes, mas apenas lutam para ser elas mesmas.
Milk é um filme sobre a diferença, sobre a importância de lutar pelas idéias em que se acredita e ele ensina que é melhor viver lutando por aquilo que vale a pena do que fugindo de si mesmo.
Todos querem uma vida longa e próspera, mas só o acaso pode garantir ambas. Antes de uma vida longa ou próspera deveríamos nos preocupar em ter uma vida digna.
Dignidade não é só o conceito chave da sociedade e do direito moderno: alcançar uma vida digna é o sentido próprio da vida de cada um; lutar por ela pode não ser nada fácil mas o que mais vale a pena?
Ter uma vida digna é na pior das hipóteses uma gratidão por todos os que lutaram e sofreram para garantir para eles e para cada um de nós uma vida mais digna.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Foi apenas um sonho


"Foi apenas de um sonho" de Sam Mendes, com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, é um filme que deve ser visto por quem já sabe o que fazer da vida e que precisa ser visto por quem não sabe o que quer ou tem medo de tentar.

O filme, baseado no romance de Richard Yates (http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Yates_(novelist)), é a história de um casal jovem e sonhador que se une para realizar seus sonhos: April sonha em ser atriz e Frank em descobrir o mundo e fazer algo interessante. Vários anos, dois filhos e algumas frustrações depois April é uma pacata e infeliz dona de casa e Frank um burocrata acomadado e frustrado que começa a procurar subterfúgios para tolerar uma vida que considera intolerável.

April resolve arriscar tudo para realizar os seus sonhos e decide mudar-se para Paris com a Família para re-descobrir um sentido para a sua vida . Frank embarca neste sonho com ela, mas o quotidiano, as frustrações da vida e as distrações começam a pesar na sua escolha e é em meio a este território de dúvidas, incertezas e angústias que a hitória se constrói.
O papel desempenhado pelas distrações de Frank é bastante revelador: prazeres imediatos que não nos satisfazem são úteis para desviar nossa atenção e nos destrair do verdadeiro problema: ter a coragem de se arriscar para descobrir quem realmente somos e do que realmente queremos.
É bastante curioso que o matemático louco, literalmente, e inoportuno seja o único a ter a coragem de enxergar e dizer a verdade: "Frank não sabe o que quer e é fraco demais para tentar qualquer coisa nova por mais insatisfeito que esteja; April sabe o que não quer e quando a vida não tem sentido largar tudo em nome de um sonho não é uma escolha vazia é a única forma de se manter íntegro." Ser forte é ter consciência de quem se é e do que se quer para ter a coragem de tomar as decisões necessárias, mas a fortaleza pode ser algo intolerável quando o mundo parece dominado pelos mediocres e assimilados.
As escolhas e situações apresentadas do filme são dramáticas, tão dramáticas como se apresentam na própria vida, e o filme mostra que em nossas vidas ou tudo é apenas um sonho ou não é nada.
É claro que não precisamos viver em Paris para sermos felizes, embora férias em Paris sejam bem vinda para quase todo mundo. O importane é que em Nova York, Roma, São Paulo, Fortaleza ou qualquer outra cidade tenhamos a coragem de descobrir e procurar realizar os próprios sonhos para que, no fim da vida, assistindo ou não o filme, possamos dizer: foi apenas um sonho.