quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Identidade


Identidade é mais um grande livro do escritor Tcheco Milan Kundera, autor de "O Livro da Ignorância" e do conhecido, "A Insustentável Leveza", que virou filme. Na complexa história de amor entre Chantal e Mark, revela-se a verdadeira face do amor e da vida: qualquer coisa só faz sentido se for uma manifestação daquilo que nós somos.

Na luta, difícil e permanente, pela identidade, os personagens se perdem e se acham, mas não é justamente este, também, o jogo da vida?

Por que, com maior ou menor frequência, queremos e não queremos algo: achamos que aquilo é tudo que importa até que deixa de ser importante. Estas contradições, que às vezes emergem até nas pessoas mais obstinadas (com o gravame de, no último caso, desmontar a sua personalidade tão 'bem' defendida e acarretar uma crise imprevisível) existem por não sabermos quem somos.

Se não somos capazes de nos conhecer e nos reconhecer, revelando nossa identidade, nossa vida não será mais que um simulacro e o sucesso sonhado uma vez conquistado pode carecer de sentido ou, tão ruim quanto, pode deixar até de ser desejado, pois se não sabemos quem somos, nem estamos dispostos a procurar, nada mais faz sentido mesmo e qualquer resultado será ruim.

Entretanto, precisamos seguir, sonhar e realizar uma vida concreta, escolhendo a cada instante. E como escolher é difícil. Por isso, é sempre mais fácil escolher o primeiro desvio ou atalho: mais compras, mais comida, mais informação. Mais nada.

O grande paradoxo, que o livro e a vida revelam, é que podemos nos esforçar o quanto for para fugir de tudo que nos seja difícil ou doloroso, só não podemos fugir de nós mesmos. O problema é que de todas as tarefas que realizamos a busca pela identidade é a única que realmente importa, pois sem ela todas as outras não tem sentido.

Afinal, todos queremos ser felizes e a "felicidade é um passso rumo a si mesmo" (Saramago), mas para nos encontrar precisamos primeiro saber quem somos e é aí que tudo começa a ficar complicado ou complexo: que bom!

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