domingo, 15 de janeiro de 2012

Uma lágrima para Daniel Piza


Há quase 15 anos lia, pelo menos semanalmente, os textos de Daniel Piza. Um amigo na Faculdade de Direito, que estudava para ser diplomata e logo depois ingressou no Rio Branco, indicou o caderno fim de semana da Gazeta, editado pelo Daniel com excelentes críticas sobre a vida cultural no Brasil e no mundo e que continha sua excelente coluna, Sinopse.
Desde o início tornei-me um assíduo leitor do Piza e toda semana corria para as bancas para comprar a Gazeta da sexta só pelo caderno de cultura.
Depois, com a mudança para o Estadão e a criação de seu site (http://www.danielpiza.com.br/) e de seu blog (http://blogs.estadao.com.br/daniel-piza/), pude acompanhar seus textos com ainda mais assiduidade.
No oceano de trivialidade da internet, eu encontrava críticas interessantes sobre os mais variados assuntos nos textos do Daniel e enriquecia meu universo ao conhecer novos autores que ele indicava e analisava, sem condescedência.
Foi através de suas colunas que conheci escritores como Milton Hatoum, Amos Oz (e seu comovente De Amor e Trevas), compositores como Tom Waits, pintores como Iberê Camargo e Anselm Kiefer e tantos outros artistas, pensadores e intelectuais.
Quando soube da sua idade pela primeira vez, fiquei surpreso. Como ele podia ser tão jovem e já tão erudito. Embora ferino, tinha uma análise sóbria e um texto claro, sem empolações. Com frequência, discordava dele, e sempre preferi os textos sobre cultura aqueles sobre política ou futebol, mas admirava a sua versatilidade e seu estilo e concordava com a idéia de que precisamos de intelectuais que pensem os mais vários aspectos da sociedade, reconhecendo a relevância da ciência e da cultura para todos nós.
Além de erudito, Daniel Piza não tinha problema em se reconhecer como uma pessoa bem resolvida e feliz já que se considerava realizado por ter encontrado uma aptidão (como crítico cultura) e um amor (pela esposa, pelos filhos e pela família e pelos amigos), que justificavam sua existência.
Soube recentemente que pretendia ir para Nova York, onde viveria como crítico cultural acompanhado de sua esposa e filhos. E esse era outro aspecto que me impressionava no Daniel: além de ser muito precoce e determinado (abandonou a carreira jurídica, apesar de ter estudado na São Francisco) ele procurava realizar seus sonhos.
Ele dizia que tinha o sonho de escrever a biografia de Machado de Assis e, tempos depois, publicava o livro que planejava escrever. Ele queria ir para Nova York e ele iria para Nova York.
Infelizmente, ele não pode ir, mas o seu amor à vida, ao trabalho que escolheu e às pessoas que o cercavam poderão servir de exemplo para muita gente. Certamente, servirão para mim.
A vida pode ser muito injusta (o Piza tinha uma vida muito saudável, era jovem, jogava futebol), mas o mais importante é o que fazemos com ela e como nos posicionamos, como sabia o Piza e o demonstrou ao comentar o último livro do Roth, Nemésis.
Daniel Piza escreveu 17 livros, foi bom para as pessoas que o amavam e ajudou algumas pessoas, como eu, com suas indicações e análises a compreender melhor o mundo e a si mesmo.
Quando morria alguém, ele sempre escrevia: uma lágrima para...
Poderia repetí-lo e dizer, uma lágrima para Daniel Piza, mas, como não o conheci pessoalmente, preciso dizer apenas: Um obrigado para Daniel Piza.