sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Crime e Castigo


O que você faria se fosse condenado à morte e na hora da execução da pena já com capuz na cabeça fosse anunciado que sua pena fora comutada em uma prisão por trabalhos forçados por 4 anos?

Fiódor Dostoiévski (Cia. das Letras, agora em tradução direta do russo para o português) escreveu "Crime e Castigo" (dentre outros livros), a história do assassino ocasional e extraodinário Raskólnikov, que divide os criminosos em ordinários (homens comuns que praticam crimes) e extraordinários (homens extraordinários cujo crime é apenas um meio de garantir uma vida melhor para a humanidade, como Napoleão Bonaparte).
Quando a humanidade é a causa em jogo, o crime não chega sequer a ser um crime. Raskólnikov considera-se um homem extraordinário e injustiçado ,que apesar de toda inteligência e dedicação fora obrigado a abandonar os estudos na Faculdade de Direito de São Petesburgo por falta de dinheiro.

Ao ser exploradora por uma velha usurária e solitária Raskólnikov encontra uma solução para o fim da sua agura e de sua família, mãe e filha, que necessitam desesperadamente do seu sucesso e se sacrificam em vão em seu favor: matar a velhaca e ficar com o seu dinheiro

Raskólnikov não é medroso (pelo contrário, é altivo e orgulhoso) e mata a velhinha perversa, como se sabe desde o início, mas nem fica com seu dinheiro.

Daí em diante (e já antes), Dostoiévsky enreda a história no universo íntimo de Raskólnikov e dos outros personagens (v.g. Dúnia, Sônia, Svidrigáilov); a história é encenada em um complexo labirinto psicológico em que os personagens se transformam em um "mero" pretexto para contar a história do que é o humano.

Não supreende, então, que o livro, escrito no século XIX, antecipe alguns dos terríveis dramas que acompanharam a Rússia no século XX: quando Ródia diz que não matou uma pessoa, mas um piolho, por ser um homem extraordinário, ecoa o discurso e a prática stalinista.

As tragédias reais fizeram o homem mais desumanos; os dramas de Dostoiévksi tornam a vida mais real e significativa. Poucas vezes a literatura desceu tão profundamente na alma humana: Dostoiévski desceu e até hoje está lá. Se duvidar, leia "Crime e Castigo".

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