sábado, 17 de janeiro de 2009

Diversão e arte: a surpreendente lista dos livros mais vendidos do ano


Todo ano é divulgada a lista dos livros mais vendidos. Entender um pouco melhor o que o mundo anda lendo ajuda a compreender as nossas preferências e quem somos: não deixamos de ser aquilo do que gostamos. E, neste ano, na lista dos mais vendidos, não há supresa: os escritores admirados pela crítica literária e cultural mais uma vez estão praticamente fora.

O romance mais vendido do ano foi o drama "O Caçador de Pipas" de Khaled Hosseini , acompanhado dos "tradicionais" John Grisham, J.K. Rowling, Stepheni Meyer e o brasileiro Paulo Coelho.

Devo confessar minha ignorância: dos 20 autores mais vendidos só li Paulo Coelho e já tem uns vinte anos e apneas assiti à adaptação cinematográfica de "O Caçador de Pipas", o que me impede de fazer uma crítica de cada um dos best sellers atuais do mundo: fazer o tipo "não li, não gostei" pode ser pouco mais do que uma demonstração de arrogância, mas diante de tantos livros existentes muitos terão que ser excluídos da nossa lista pessoal

Mas posso, por outro lado, falar dos grandes escritores atuais do mundo que tenho lido e cujos livros não constam da lista nem mesmo após adaptações cinematográficos e/ou um prêmio nobel, como ocorreu com o português José Saramago ou com Ian McEwan.

Orhan Pamuk, nem com um nobel, entrou na lista. Philip Roth, Amós Oz, Coetzee e muitos outros, também, estão fora e seria realmente surpreendente que Milton Hatoum estivesse ocupando o lugar de Paulo Coelho na lista.

Entre os livros de ficção mais vendidos, porém, fica clara a opção dos leitores por livro que são mais entretenimento do que literatura, ainda que, de vez em quando, apareçam louváveis exceções, o que indica que muitas das pessoas que passam horas lendo um livro querem apenas diversão.

Daniel Filho, comentando o campeão de bilheteria "Se eu fosse você 2", disse que o que o público quer mesmo é diversão e que seria muito pretencioso querer produzir Arte. De fato, todos queremos nos divertir: o problema é a oposição que se faz entre diversão e arte, quantidade e qualidade.

Os melhores livros que já li não são apenas grandes histórias, com personagens densos, eles são, também, muito divertidos. Quem realmente leu "Memórias Póstumas de Bras Cubas" sabe que o livro não é 'apenas' uma grande obra, é divertidísssimo. Oscar Wilde é muito mais engraçado do que várias das comédias românticas, água com açucar, que sempre estão em cartaz no cinema. As tragédias de Shakespeare dão uma surra em qualquer dramalhão em moda.

Na antitese que se se sugere entre arte e diversão, o que está em jogo é o próprio significado da diversão. A lista dos mais vendidos mais uma vez mostra que entre os livros mais bem sucedidos predomina os que querem somente divertir, entreter, passar o tempo. Afinal, histórias densas com personagens complexos, ambiguos e contraditórios até, só podem ser muito chatas e na nossa hora de descanso o que é bom mesmo e se desligar dos problemas e passar um tempo com livros divertidos e facéis de ler.

De fato, qualquer obra de arte, por mais divertida que seja, trás consigo a semente da dúvida de modo a revelar significados ocultos da vida, relações inicialmente insuspeitas e apresenta novas possibilidades. Por isto, são sempre mais do que um passa tempo e refletir sobre o significado da própria vida através de um livro, um filme ou até um quadro pode ser algo realmetne difícil ou doloroso, mas aí a culpa não é do quadro é da vida e do modo que cada um a conduz.

É sempre mais fácil ler uma historinha ou um filminho água com açucar. Assim, o tempo vai passando e cotinuamos ilesos; e se demorarmos demais a descobrir o que nós somos e o que queremos será um mero detalhe. O que torna tudo realmente difícil é que a vida, cedo ou tarde, vai nos pregando várias peças e quando despertarmos pode ser tarde demais. Mas pensar sobre isso não é nada divertido: é melhor passar o tempo.

Cansado? Exausto de procurar um sentido para a vida? Que tal pular para o próximo best seller... Se você não estiver tempo para ler, um filme de ação ou uma comédia romântica qualquer produzem o mesmo efeito.

Só não vale reclamar mais tarde que a vida passa rápido demais: somos nós quem a deixamoss passar.

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