segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Por quem os sinos do capitalismo dobram?


Hoje, a bolsa de Nova York teve a maior alta (em pontos) da história; na semana passada, uma queda ainda maior. Quem souber o que vai acontecer amanhã não deve perder tempo: está é a pergunta de um trilhão de dólares.

Pois é agora entramos na Era do trilhão: a Europa e os EUA já anunciaram um pacote trilionário para os bancos, o Brasil, mais modesto, anunciou apenas a diminuição do recolhimento do compulsório em R$ 100.000.000.000,00.

Maior do que este volume, só o mesmo o volume de perdas. E a grande dúvida que não me sai da cabeça no meio do furacão: quem ganhou e quem perdeu com a crise.

Os acionistas do Lehman Brothers definitivamente perderam, mas o seu C.E.O reconheceu, em audiênica na Câmara Americana, que ganhou, nos 14 anos que presidiu a instituição pré-falencial, U$ 250.000.000,00. Onde será que está este dinheiro? Certamente, ele não usou tudo para comprar ações do Banco de Investimento A++, Lehman Brothers, caso contrário, estaria quebrado.

Paul Krugmann, o mais árduo crítico da política neo-liberal do Governo George W. Bush ganhou o prêmio Nobel hoje, mas agora é fácil, quase óbvio, dar o prêmio para ele. Por que ele não ganhou o Prêmio no início do Governo Bush? Porque naquela época a economia, apesar da Guerra e do déficit, estava muito bem e os prêmio só podiam ir para os Profetas da econometria. ECONOMETRIA: a ciência que confere a certeza da matemática para a incerteza da economia.

A economia real e dos acadêmicos até a crise era dos econometristas e o seu maestro era Alan Greenspan, o Presidente do FED (o Banco Central Americano), entre 1987 e 2006, que em recente entrevista disse que não havia nada de errado com a economia liberal e já apresentou a solução para a crise: 1) o Governo Americano deve garantir a solvência dos Bancos, injetando a quantidade de dinheiro que for necessária; 2) o dinheiro deve partir do aumento de emissões de títulos do tesouro americano; 3) quando os efeitos inflacionários da emissão de dinheiro forem sentidos o FED deve aumentar bruscamente os juros.

O Maestro está sendo apontado como o principal culpado pela crise e uma grande crise também precisa dos seus vilões: Greenspan é um dos mais fervorosos defensores do liberalismo econômico e para ele o direito econômico e a maior parte do sistema de regulação é obsoleto, pois, cedo ou tarde, o mercado se ajusta à crise.

E esta crise é definitivamente uma crise de regulação: a excessiva alavancagem dos bancos causada por empréstimos com garantias superestimadas gerou uma ilusória exuberância que agora está sendo desmascarada; um melhor controle, na regulação e na fiscalização, das garantias teria evitado a bancarrota.

Greenspan continua achando que não: crises com está são imprevisíveis e nem mesmo os bancos, agentes econômicos mais eficientes (pois como disse um membro do conselho do J.P. Morgan conhece melhor os balanços do CityBank do que os técnidos do FED), foram capazes de prevê-la.

Na época da bonança, contudo, muita gente ficou rica com a especulação e ela foi esticada até o limite, agora a corda rompeu e os ventos do liberalismo parecem apontar para uma nova direção. Por quem os sinos dobram?

A América Latina parece que se antecipou aos acontecimentos e Venezuela, Bolívia e Equador estão apostando no populismo estatizante.

O Brasil, com a política 'neoliberal do FMI', de FHC à Lula, de Gustavo Franco a Henrique Meireles, está em melhor situação. A Europa, temendo a crise, não teve medo de bancar os Bancos; os EUA parece que quis dar uma lição nos Bancos e deixou o Lehman Brother´s quebrar. Depois disso, a crise só piorou e a derrota do candidato Republicano foi praticamente garantida com a pá de cal da demora na aprovação do pacote de 700 bilhões do Governo Americano.

Os pacotes trilionários vão bastar? Não sou economista e posso afirmar com convicção: não faço a menor idéia, mas é certo que, na exuberância irracional dos mercados, muitos ganharam muito e, agora, muitos mais podem perder o pouco que tem.

Ainda assim, o capitalismo, com suas crises sistêmicas, ainda é o menos pior dos regimes econômicos, mas sem uma regulação inteligente e uma domesticação por um sistema mais justo ele perde seu sentido.

No final, ainda que em um sonho utópico, não é proibido imaginar o que aconteceria com o mundo se o dinheiro gasto na ajuda aos bancos e ao marcado fosse aplicado no combate à corrupção, na educação dos pobres e na proteção do meio ambiente, desde que não esqueceçamos a dura lição de Churchill, moldada em uma crise (política) muito maior: a democracia é o pior regime com exceção de todos os outros.

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