quinta-feira, 3 de julho de 2008

O fantasma sai de cena: Philip Roth e o fim do romance

Nur mit Wind, mit Zeit und mit Klang, Kiefer, Anselm, Guggenheim, Bilbao

O alter ego do escritor americano Philip Roth, Natan Zuckermann, está de volta em o “Fantasma saí de cena” (companhia das letras): de volta e em plena forma.
Depois de 11 (onze) anos isolado, escrevendo com a disciplina e a imaginação de um grande escritor, Natan retorna a Nova York na época da reeleição de George W. Bush e o que o choca (guessa what) é a invasão de celulares por todos os lugares.

A grande maçã (Big Apple), capital que enche alma de esperança e ambição, não é mais a cidade de Natan, que, em sua maturidade, continua um homem atormentado, de um conformismo pessimista, pela doença e pela amargura. Isolado, Zuckermann vivia no incômodo conforto da sua imaginação nas montanhas da Nova Inglaterra.

De volta à cidade, confronta-se com um mundo dinâmico demais para ser compreendido ou aceito pelo escritor idoso; a juventude é a grande inimiga que o encanta e o intimida, como o fazem a herdeira rica e sedutora escritora quase histérica e frustrada e o candidato à biógrafo do mentor intelectual de Natan.

Qual o papel do romance neste universo tão rápido e dispersivo?

Um universo nutrido pelo interesse por fatos e histórias ‘reais’, mesmo que não passem de farsa, em que a literatura passa a ser identificada com a biografia...

Roth não responde: mas demonstra que o romance, enquanto gênero, continua em plena atividade. Neste mundo de dispersões, nem mesmo a relação quase fetichista com 'o real' é capaz de impedir o retorno do fantasma da imaginação de todos que lutam para manter sua própria identidade .

Neste novo mundo, ZucKerman, o vetusto, pode até pertencer ao velho mundo, ao outro mundo, à outra época, que habita o mundo atual como um fantasma: mas um fantasma em plena forma e em cena.

Se hoje, a vida se tornou quase uma permanente representação, pois afinal estamos todos em cena, a ficção (e a literatura, portanto) é um elemento formador e transformador deste mundo para que a vida não se torne uma farsa.

A recusa de Zuckerman em colaborar com a biografia de seu menor é uma recusa em aceitar este 'choque do real', este mundo pouco imaginativo e paradoxal: a recusa em buscar o irreal (o imaginativo, o transcedente) deriva da excessiva irrealidade do real.


Resta, porém, um alento final: enquanto houver Vida, os fantasmas vão dominar a cena. Bem vindos, ao universo e ao fantasma de Philip Roth.

Viva os fantasmas.

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